A IMPLANTAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DA SAE NA UNIDADE INTENSIVA E SEMI-INTENSIVA DE UM HOSPITAL PÚBLICO


Luciane Cegati de Souza[1]

Rosemeiry Capriata S. Azevedo[2]



Este estudo objetivou analisar as expectativas dos enfermeiros das Unidades de Terapia Intensiva e Semi Intensiva quanto à implantação e implementação da SAE, manifestada através de um estudo qualitativo descritivo e exploratório. Os profissionais foram indagados sobre aspectos relacionados à SAE, como:  conhecimento, dificuldades e processo de implantação. Na análise dos dados foi possível perceber que os profissionais enfermeiros têm interesse em estar realizando a SAE, mas a falta de iniciativa dos profissionais e apoio da coordenação de enfermagem influenciam o seu desenvolvimento.
Unitermos: Sistematização da Assistência de Enfermagem, Unidade de Terapia Intensiva;


This application aims to make na analysis of the UTI and Semi UTI nurse’s expectations about the introdution of SAE implant manifested through a descritive qualitative and exploratory opllication. The professionals were asked about aspects related to the SAE such as Knowledge difficulties and introdutions process. Analysing the data it was possible to notice that the nurse professionals are interested in the SAE realization althogh the back of professional iniciative as well as the back of support from the nurse’s co-ordination department influence its development.
Uniterms: System of nurse’s assistent, unit intensive of therapy;


Este estudio objetivo analizar las expectativas de los enfermeros  de las Unidades de Tarápia Intensiva y Semi Intensiva cuanto  a la implantación y implementación de la SAE, manifestada a través de un estudio cualitativo descriptivo y exploratorio. Los profesionales fueron indagados sobre aspectos relacionados a SAE, como conocimiento, dificultad y proceso de implantación. En análisis de los datos fueron  posible percibir que los profesionales enfermeros  que tienen interés en realizar a SAE, mas la falta de iniciativa de los profesionales y  apoyo de la coordinación de enfermería influencian su desenvolvimiento.
Unitermos: Sistematización de la asistência de enfermeria, Unidad de Terapia Intensiva;




INTRODUÇÃO

A sistematização de Assistência de Enfermagem – SAE, sendo uma atividade privativa do Enfermeiro, utiliza método e estratégia de trabalho cientifico para a identificação das situações de saúde e doença, subsidiando a prescrição e implementação de ações de assistência de enfermagem visando contribuir para a promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde do indivíduo, família e comunidade.
Cabe privativamente ao Enfermeiro a implantação, planejamento, organização, execução e avaliação do processo de que compreende as seguintes etapas: consulta de Enfermagem, Histórico, Exame Físico, Diagnóstico de Enfermagem, Prescrição de Enfermagem, Evolução de Enfermagem e Relatório de Enfermagem[1]. 
De acordo com a Decisão COREN–MT 025/2004, a implantação e implementação da SAE tornaram-se obrigatória em toda instituição de saúde pública e privada (incluindo-se a Assistência Domiciliar Home Care), desde 26 de Março de 2004.
No entanto, as instituições hospitalares ainda não atendem a esta normatização. Os enfermeiros ainda não incorporaram à sua prática processos sistematizados de assistência, voltados às necessidades individuais e/ou comunidades, o modelo assistencial a ser aplicado pelo Enfermeiro em todas as áreas de assistência à saúde, reduzindo assim, a visibilidade e qualidade da assistência prestada a seus clientes.
A ausência de cuidado sistematizado e individualizado tem produzido uma relação enfermeiro/cliente de forma assimétrica. Nesse sentido, a SAE se apresenta como uma estratégia de aproximação e de conhecimento dos problemas/necessidades dos clientes de maneira individualizada.
A SAE também possibilita ao Enfermeiro uma autonomia profissional. Entretanto esta só será adquirida no momento em que toda a classe passar a utilizar a metodologia científica em suas ações, o que será alcançado pela aplicação sistemática do processo de enfermagem[2].
Com Florence Nightingale a enfermagem iniciou sua caminhada para a adoção de uma prática baseada em conhecimentos científicos, abandonando gradativamente a postura de atividade caritativa, intuitiva e empírica. Com esse intuito, diversos conceitos, teorias e modelos específicos à enfermagem foram e estão sendo desenvolvidos, com a finalidade de prestar uma assistência, ou seja, planejar as ações, determinar e gerenciar o cuidado, registrar tudo o que foi planejado e executado e, finalmente, avaliar estas condições, permitindo assim gerar conhecimentos a partir da pratica, realizando assim o processo de enfermagem[3].
O nome “processo de enfermagem” surgiu na literatura pela primeira vez em 1961, numa publicação de Orlando, como proposta de sistematizar a assistência de enfermagem, tendo como fator primordial o relacionamento interpessoal enfermeiro-paciente[4].
 Na década de 70, Wanda de Aguiar Horta desenvolveu um modelo conceitual, a partir de sua vivência profissional. Ela desenvolveu um modelo que pudesse explicar a natureza da enfermagem, definir seu campo de ação especifico e sua metodologia. Essa mesma autora define o processo de enfermagem, como sendo a dinâmica das ações sistematizadas e inter-relacionadas, visando à assistência ao ser humano.
No processo de enfermagem a assistência é planejada para alcançar as necessidades específicas do paciente, sendo então redigida de forma a que todas as pessoas envolvidas no trabalho possam ter acesso ao plano de assistência[5].
O processo de enfermagem possui um enfoque holístico, ajuda a assegurar que as intervenções dos enfermeiros sejam elaboradas para o indivíduo e não apenas para a doença, apressa o diagnóstico e tratamento dos problemas de saúde potenciais e vigentes reduzindo a incidência e período de hospitalização, melhora a comunicação entre seus pares e equipe de saúde, previne erros, omissões e repetições desnecessárias, obtendo assim, resultados satisfatórios[6].
O processo de enfermagem é o instrumento profissional do enfermeiro, que guia sua prática e pode fornecer autonomia profissional, concretizar a proposta de promover, manter ou restaurar o nível de saúde do paciente, como também documentar sua prática visando à avaliação da qualidade da assistência prestada[7].
A Lei do Exercício Profissional[8] dispõe no seu artigo 11, as atividades consideradas privativas/exclusivas do enfermeiro; dentre essas estão a consulta de enfermagem; prescrição da assistência de enfermagem; cuidados  diretos de enfermagem a pacientes graves com risco de vida; cuidados de enfermagem de maior complexidade e que exijam conhecimentos de base cientifica e capacidade de tomar decisões imediatas. Portanto, a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) é uma atividade privativa do enfermeiro.
A SAE requer do enfermeiro interesse em conhecer o paciente como individuo, utilizando para isto seus conhecimentos e habilidades, além de orientação e treinamento da equipe de enfermagem para a implementação das ações sistematizadas[9].
A implementação da SAE, deverá ser registrada formalmente no prontuário do paciente devendo ser composta por: Histórico de enfermagem /Exame físico; Prescrição da Assistência de Enfermagem; Diagnósticos de Enfermagem; Evolução da Assistência de Enfermagem e Anotações de Enfermagem.
O Histórico de Enfermagem se refere ao levantamento das condições do paciente através da utilização de um roteiro próprio que deverá atender as especificidades da clientela a que se destina[10]. Ele tem por objetivo identificar os problemas dos pacientes de modo que, ao analisá-los adequadamente, possa chegar ao diagnóstico de enfermagem[11] [12].
O exame físico compõe o Histórico de Enfermagem, nele o enfermeiro avalia as condições físicas do cliente por meio das técnicas de inspeção, ausculta, palpação e percussão buscando levantar dados sobre o estado de saúde/doença do paciente, registra as anormalidades encontradas a fim de validar as informações obtidas no histórico. O exame físico consiste no estudo bio-psico-sócio-espiritual do individuo, por intermédio da observação, de interrogatório, de inspeção manual, de testes psicológicos, testes de laboratório e do uso de instrumentos9.
No Brasil, a expressão diagnósticos de enfermagem foi introduzida por Horta em 1979 e se constituiu em uma das etapas do processo de enfermagem. O enfermeiro após ter analisado os dados escolhidos no histórico e exame físico, identificará os problemas de enfermagem, as necessidades básicas afetadas, grau de dependência e fará um julgamento clínico sobre as respostas do indivíduo, da família e comunidade aos problemas/processos de vida vigentes ou potenciais.
A prescrição de enfermagem é o conjunto de medidas elaboradas pelo enfermeiro, que direciona e coordena a Assistência de Enfermagem ao paciente de forma individualizada e contínua, objetivando a prevenção, promoção, proteção, recuperação e manutenção da saúde.
A Evolução de Enfermagem é o registro feito pelo enfermeiro após a avaliação do estado geral do paciente. Desse registro devem constar os problemas novos identificados, um resumo sucinto dos resultados dos cuidados prescritos e os problemas a serem abordados nas 24 horas subseqüentes[13].
A anotação é um instrumento valorativo de grande significado na assistência de enfermagem e na sua continuidade, tornando-se, pois, indispensável na aplicação do processo de enfermagem, pois está presente em todas as fases do processo[14].

METODOLOGIA
O presente estudo se caracteriza por ser uma pesquisa qualitativa descritiva e exploratória. A abordagem qualitativa parte do fundamento de que existe um vínculo dinâmico e indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. As orientações filosóficas que norteiam a pesquisa qualitativa são principalmente a fenomenologia e a dialética[15].
O estudo foi desenvolvido em uma Unidade de Terapia Intensiva e Semi Intensiva de um hospital publico no município de Cuiabá – MT. Os participantes foram oito enfermeiros que desenvolvem atividades profissionais na UTI e USI desse hospital, os quais assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, no qual ficou assegurado o anonimato das informações contidas nas gravações. Para a identificação dos participantes, foram utilizadas letras em ordem alfabética.
Solicitou-se autorização para a realização do estudo à Coordenação de Enfermagem e ao Comitê de Ética e Pesquisa em Saúde, conforme determinação da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS).
Para a coleta dos dados optou-se por entrevista gravada, realizada pelo próprio pesquisador. Durante as entrevistas foram observadas atitudes que os enfermeiros apresentavam frente às perguntas, entonação de voz, manifestação de interesse, os quais foram registrados detalhadamente em diário de campo.
A entrevista é a técnica em que o pesquisador está presente junto ao informante e formula questões relativas ao seu problema de estudo. Por meio da observação o pesquisador entra em contato com a realidade que se deseja conhecer, “olha” para ela e anota tudo o que considerar pertinente à sua pesquisa. A observação pode ser definida como o uso sistemático de nossos sentidos, na busca de dados que necessitamos para resolver um problema de investigação[16] .
A principal vantagem dessa técnica reside no fato dos acontecimentos serem percebidos diretamente, sem nenhum tipo de intermediação, colocando o pesquisador diante da situação estudada tal como acontece naturalmente. A observação pode incluir características e condições de indivíduos, comunicação verbal ou não verbal, características ambientais e outros[17].
As entrevistas foram realizadas no local de trabalho dos enfermeiros durante o horário de serviço, em um momento que pudessem responder as questões sem atrapalhar o desenvolvimento de suas atividades. As questões que nortearam o estudo foram: O que você sabe sobre a SAE? Você considera importante a implantação e implementação da SAE nas instituições de saúde? Por quê? A SAE está implantada no seu local de serviço? Destaque as principais dificuldades que você encontra para a implantação e/ou implementação da SAE? Que condições (estrutura física, materiais, equipamentos, n° de funcionários/enfermeiros) seu local de trabalho apresenta para a implantação e/ou implementação da SAE? Você gostaria de implantar e/ou implementar a SAE aqui na UTI/USI? Por quê?
Procedeu-se a análise das informações e interpretação dos dados seguindo os passos a seguir: transcrição dos dados coletados, leitura inicial do texto, listagem dos pontos chaves, análise estrutural, dissertação das informações e fundamentação com a teoria. Desta análise, emergiram os temas que representam as expectativas dos enfermeiros quanto à implantação e implementação da SAE, frente à decisão COREN-MT 025/2004.


APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
1. O conhecimento do enfermeiro sobre a SAE
O estudo revelou que os enfermeiros possuem sim conhecimento do que vem a ser a SAE a ponto das falas apresentarem definições, objetivos e vantagens de sua utilização como pode ser observado abaixo:
 “um método sistematizado de trabalho que envolve planejamento e fornece  subsídios para o enfermeiro desenvolver o seu trabalho, o dando respaldo”. (Enfermeiro E);
“processo de organização dos serviços”. (Enfermeiro G);
“A SAE tem por objetivo de atender as necessidades dos pacientes”. (Enfermeiros A e D);
 “melhora a qualidade da assistência”. (Enfermeiro A);
“identifica e dá “identidade” ao enfermeiro”. (Enfermeiro A);
Uma fala que me chamou a atenção foi a de que a SAE dá identidade ao trabalho do enfermeiro, ou seja, personifica, torna o trabalho do enfermeiro diferente de outros profissionais da saúde e da própria equipe de enfermagem.
A identidade do enfermeiro é essencialmente construída no tempo, no espaço e nas relações do cotidiano. O modo de ser enfermeiro indica suas formas materiais, sensitivas e expressivas de perceber o mundo e de se relacionar com as pessoas representando assim, a conjunção do ser e suas percepções/expressões. Dessa forma podemos dizer que a identidade é um processo de construção onde cada momento se torna essencial/determinante para a nossa conformação. Não há uma identidade e, sim, uma pluralidade de identidades possíveis, tendo como perspectiva o ser trabalhador[18].
Apesar de a maioria dos enfermeiros afirmarem que não utilizam a SAE em seus serviços e de não terem contato com a mesma após o término da faculdade, os enfermeiros entrevistados definiram a SAE de forma correta, sabem de sua importância e necessidade de utilização em seus serviços. Entretanto, justificam que a ausência de um cuidado sistematizado nos serviços de saúde não está relacionada ao desconhecimento do tema, mas sim pela falta de iniciativa da coordenação de enfermagem da instituição, visto que a mesma não se manifesta a respeito do assunto e não se posiciona a respeito da implantação da SAE.
O reconhecimento da instituição do real papel da enfermagem moderna é fundamental para que esta profissão seja reconhecida pela estrutura formal e favoreça as discussões na sua estrutura informal, para garantir a implantação e a continuidade do sistema de enfermagem5.
Essa ausência de posicionamento poderia estar relacionada à falta de motivação profissional e interesse que a sistematização realmente acontecesse, visto que um enfermeiro sozinho não fará o processo acontecer.
 A implementação da SAE nas unidades de saúde, e principalmente a nível hospitalar, valorizará o trabalho do enfermeiro, proporciona melhoria no atendimento aos clientes, consequentemente, salto de qualidade na assistência prestada. Mas, para que isso aconteça, a instituição deve apresentar condições para que a SAE seja efetivada, ou seja, a coordenação de enfermagem deve incentivar sua equipe de enfermagem. Os enfermeiros até demonstram interesse em fazer funcionar a SAE, mas precisam que os setores responsáveis, ou seja, as coordenações, também reconheçam sua importância para o serviço.
Entretanto, o processo de aceitação não ocorre de maneira facilitada, é preciso enfrentar as resistências com oficinas de sensibilização de toda equipe de enfermagem, uma vez que auxiliares e técnicos não estão habituados a seguir orientações /prescrições de enfermagem e sim prescrição médica desde o início da história da enfermagem.  Alguns auxiliares e técnicos de enfermagem acham que o que está anotado na prescrição de enfermagem não passa daquilo que fazem todos os dias e por isso, não precisam ser prescritos, pois  já estão cansados de executar os cuidados de rotina.

2. Processo de implantação da SAE na UTI e USI
Todos os enfermeiros foram unânimes ao afirmar que a SAE “não está implantada no seu local de trabalho”. Embora a sistematização da assistência não estivesse implantada, eles reconhecem a importância e necessidade de se estruturar o serviço, pois assim o cuidado passaria a ser executado de forma individualizada, as necessidades de cada um seria atendida da melhor forma possível contribuindo para a sua recuperação e continuidade na assistência.
Atualmente, a assistência prestada na UTI e USI não são sistematizadas, com isso as necessidades dos pacientes acabam sendo atendidas em termos, o cuidado prestado muitas vezes não é registrado no prontuário do mesmo, ou seja, deixa de ser documentado, o serviço do enfermeiro por sua vez deixa de ser reconhecido e a assistência ao paciente prejudicada, pois sem os devidos registros, fica impossível saber quais foram os cuidados realizados no plantão anterior formando assim um circulo vicioso, onde o paciente passa a ser tratado de forma diferenciada em cada plantão, não tendo a continuidade dos serviços, e é requisito básico que todas as fases do sistema de assistência de enfermagem (SAE) estejam registradas e arquivadas no prontuário do paciente5.
Para que o processo de enfermagem se torne realidade na UTI e USI, acreditamos que o primeiro passo a ser tomado pela gerência de enfermagem deveria ser a discussão com todos os profissionais da área, a fim de elaborar um “modelo” para a SAE que atenda as características do serviço.
Os profissionais reconhecem que ainda se tem um longo caminho a ser percorrido, ou até mesmo, alguns colocam uma “barreira de vidro” para iniciarem a realização da SAE, apesar de demonstrarem entender o que é a SAE e sua importância para a melhoria do cuidado prestado, porém, eles não se colocam em ação, e quando algum enfermeiro tenta se mobilizar no sentido de assistir o cliente de forma mais sistematizada, outros não o fazem e o serviço acaba não aparecendo, ou seja, “uma andorinha só não faz verão”.
O processo de enfermagem só se tornará realidade quando todos os profissionais da instituição estiverem falando a mesma linguagem, e para que isso aconteça, todos devem estar motivados para experienciar novas formas de cuidar.

3. Dificuldades para a implantação/implementação da SAE
As dificuldades apontadas pelos enfermeiros para a implantação da SAE foram diversas, dentre elas estão a falta de interesse institucional, inexistência de um “modelo” de atendimento, condições de trabalho insuficientes, falta de motivação profissional, falta de funcionários, sobrecarga de trabalho para o enfermeiro, um enfermeiro para dar cobertura/supervisão a vários setores, ausência de interação da equipe de enfermagem com equipe multiprofissional e sensibilização para nova proposta de cuidado.
As condições de trabalho exercem influência direta no processo de implantação da SAE fazendo com que a equipe de enfermagem tenha que lidar constantemente com improvisos (déficit de material e pessoal) para que o cliente seja assistido mesmo que o cuidado seja prestado de uma forma inadequada.
Os “improvisos” levam os enfermeiros a utilizar sua criatividade, que é um dos instrumentos básicos para o cuidar na enfermagem e significa uma atividade intelectual distinta da inteligência, sem graduação maior ou menor quanto ao sexo, raça, com intensidade variável na criança e no adulto e que não se limita a atividades artísticas  e literárias, como supõe o senso comum. É uma capacidade intelectual encontrada em todas as atividades humanas quer sejam elas técnicas, econômicas ou cientificas e que ocorre no continuum do ciclo vital ininterrupta, externa ou internamente (numa visão holística)11.
A sobrecarga de serviços para o enfermeiro também é um fator limitante para a implementação da SAE, pois este acaba ficando preso às atividades burocráticas, tentando resolver problemas administrativos, deixando de fazer a assistência ao paciente, ficando o cuidado, na maioria das vezes sob a responsabilidade dos auxiliares e técnicos de enfermagem e o enfermeiro por sua vez acaba se transformando num profissional “quebra galho”, com múltiplas funções, que “apaga incêndios”, faz de tudo, menos o que realmente é sua função – cuidar, prejudicando assim a construção de sua identidade e seu reconhecimento.
A elaboração de uma rotina básica de atendimento, de comum acordo entre os profissionais enfermeiros, poderia facilitar implantação da SAE, bem como a interação da equipe de enfermagem com a equipe multiprofissional, uma vez que todos buscam o mesmo objetivo, ou seja, a recuperação do paciente.
O esclarecimento da equipe multiprofissional quanto à forma de trabalho é uma estratégica que auxilia a envolver os diferentes profissionais no SAE. É importante enfatizar que é uma tarefa árdua, mas não impossível. É conversando sobre os objetivos, acertos e erros que conseguimos sentir-nos seguras e competentes em nossos propósitos, transmitindo isso à equipe de enfermagem e a outros profissionais5 .
A implementação da SAE também se revelou prejudicada devido à falta de sensibilização e até mesmo, a falta de interesse dos próprios enfermeiros em sua implantação. Isto se justifica pela falta de motivação, pois, o mesmo não recebe o devido apoio, como citado anteriormente, dos responsáveis na instituição.
A motivação é definida como uma palavra do latim motiva, que significa “que move ou o que pode fazer mover”, “uma inclinação para a ação que tem origem em um motivo”, e motivo seria uma necessidade que, atuando sobre o intelecto, faz a pessoa movimentar-se ou agir. A motivação das pessoas depende de dois fatores: higiênicos e motivacionais. Os fatores higiênicos referem-se “às condições físicas e ambientais de trabalho, o salário, os benefícios sociais, as políticas da empresa, o tipo de supervisão recebida, o clima de relações entre a direção e os empregados, os regulamentos internos”, entre outros. Os fatores motivadores referem-se ao conteúdo do cargo, às tarefas e aos deveres relacionados com o cargo em si, produzindo efeitos duradouros de satisfação e aumento de produtividade em níveis de excelência[19].
Essas dificuldades certamente limitam as possibilidades de implantação da SAE nessa instituição. No entanto, todas essas dificuldades necessitam ser superadas o mais breve possível, pois de acordo com a decisão COREN 025/2004, o enfermeiro que não fizer a SAE poderá responder a processo e ser punido respectivamente pelo ato de não estar fazendo o que é de sua função, quando na realidade deveria cobrar da instituição melhores condições de trabalho para a categoria, exigir que a instituição contrate número suficiente de enfermeiros para dar cobertura a todos os seus setores.
O estudo também revelou que os enfermeiros possuem muito interesse na implantação da SAE, gostariam que a mesma fosse implantada nos seus setores. Assim o exame físico passaria a ser realizado de forma completa, os pacientes seriam tratados e assistidos de maneira diferenciada e humanizada, ou seja, todas as suas necessidades seriam atendidas seja no âmbito cultural, psicosocial, espiritual e biológico.
Como pudemos observar, a SAE é um instrumento de trabalho que qualifica não só o processo de cuidar como também o profissional enfermeiro e toda a sua equipe. É uma metodologia de assistência que possibilita melhorar a organização do trabalho como também uma visão ampliada do cliente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante o estudo, os Enfermeiros demonstraram estar informados a respeito do seu conhecimento sobre a SAE, bem como, o interesse em sua implantação/implementação.  
Um dos fatores primordiais que os enfermeiros mais referiram, e que acaba se tornando um obstáculo para a sua implantação, é a falta de iniciativa da própria coordenação de enfermagem da instituição, que não se pronuncia e não toma qualquer decisão a favor da implantação da SAE.
Essas dificuldades também foram observadas em estudos anteriores, que reforçam o interesse dos enfermeiros em utilizar, na prática, o processo de enfermagem em todas as suas fases, desde o planejamento, inclusive com os diagnósticos de enfermagem, até a avaliação das intervenções. Assim, teriam a oportunidade de aplicar, racionalmente, a teoria na prática. Todavia, não conseguem desenvolver esse processo, por uma série de razões, destacando-se as seguintes: falta divulgação, carência de rotina para se desenvolver sistematicamente esse processo e ausência de padronização nos registros de enfermagem[20].
Porém, observou-se, que além da iniciativa da coordenação, falta também a iniciativa dos próprios profissionais enfermeiros, pois, embora ressaltassem muito esse fator os mesmos não faziam à sistematização acontecer, ou os que faziam, acabavam sendo únicos e logo desistiam de tentar realiza-la devido a não implantação pelos outros profissionais enfermeiros.
Os enfermeiros referiram muita falta de apoio, e por isso não apresentavam iniciativas, acreditam sim, que a SAE é extremamente importante para o reconhecimento, autonomia e valorização do enfermeiro e, além disso, tudo que é de extrema importância principalmente para os pacientes, que poderiam ter uma assistência melhorada e completa de acordo com suas necessidades.
Com essas atitudes, o que passamos a entender é que a SAE só seria realizada por todos a partir do momento que fosse uma exigência da instituição e da coordenação de enfermagem e quando a mesma preparasse o instrumento para os enfermeiros aplicarem a sistematização nos seus setores, ou seja, só assim “todos poderiam falar a mesma linguagem”.
Os profissionais enfermeiros julgaram a implantação da SAE somente como responsabilidade da coordenação, e em nenhum momento acreditaram ou propuseram se unir e fazer a SAE acontecer.
A organização da classe de enfermeiros é e sempre vai continuar sendo, o fator primordial para fazer acontecer a evolução da história da enfermagem, enquanto os profissionais não conseguirem se unir, o trabalho continuará sendo lentificado, ou se todos fizessem como o trabalho de “formiguinhas”, onde cada um faz a sua parte, sua função,  poderia até  acontecer um dia, mesmo que de uma forma muito demorada, mas quando se trabalha em equipe o resultado surge, inclusive este termo, embora em outras palavras,  foi utilizado por um dos enfermeiros durante a coleta de dados, onde o mesmo dizia que “uma andorinha só não faz verão”(Enfermeira(o) G).
Quando lemos as bibliografias sobre a SAE, desde a década de 70, quando começou a surgir este assunto no Brasil, com Wanda Horta, percebemos que o que se pensava naquela época continua sendo exatamente o que pensamos agora, pois, apesar de já ter se passado quase trinta anos, pouco se mudou e evolui na enfermagem, parece até que estes livros foram escritos nos tempos de hoje, e através disso, percebemos o quanto ainda precisamos crescer e evoluir profissionalmente para conquistarmos nossa “autonomia e o reconhecimento” que tanto foi citada durante o estudo pelos próprios profissionais, mas só conseguiremos essa evolução através de muita dedicação nos conhecimentos científicos e muita força de vontade de cada profissional.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


[1] Enfermeira do Centro Estadual de Referência de Média e Alta Complexidades, Graduanda em Enfermagem Intensivista.
[2] Doutora em Enfermagem, Universidade Federal de Mato Grosso, Orientadora.


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